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Sessão Saudade
Coordenação: Acad. Sergio Fonta


O adeus a Murilo Melo Filho

Devido ao isolamento social provocado pela pandemia, a Academia Carioca de Letras, depois de homenagear seu confrade Marcus Vinicius Quiroga (1952-2020), faz um segundo movimento de Sessão Saudade virtual para recordar, fraternalmente, o querido confrade e Acadêmico Murilo Melo Filho (1928-2020), que nos deixou há um mês. A Academia, quando retomar suas atividades normais, realizará uma Sessão Saudade presencial com a participação de todos para lembrar o grande jornalista e escritor que ocupou, com brilhantismo, a Cadeira 8 de nossa Casa.

Depoimentos
(em ordem alfabética)

“Jornalista político que marcou época, entre as décadas de 1960 a 1980, escritor, memorialista e cronista, com notável capacidade analítica dos fatos, Murilo Melo Filho destacava-se igualmente pela lhanura com que tratava os amigos e interlocutores. No seu métier de jornalista atento e bem informado, tendo muitas vezes que lidar com poderosos, era, entretanto, um homem simples e cativante, que sabia como poucos cultivar a arte da amizade e fazer-se admirar por todos. Saudades”.

- Adriano Espínola (primeiro-secretário da ACL / Cadeira 5)


“A palavra mais adequada que me ocorre para caracterizar Murilo Melo Filho é “generosidade”. Era figura assídua nas sessões semanais da ABL. Fragilizado pela doença, ainda assim fazia questão de comparecer à Academia, no limite de suas forças. Nunca o ouvi elevar a voz ou tecer comentário deselegante sobre quem quer que fosse. Ao contrário, esmerava-se, com entusiasmo, a pedir a palavra para comentar com entusiasmo as recentes publicações dos confrades. Cabe a nós, agora, in memoriam, manifestarmos gratidão e saudade a Murilo Melo Filho”.

- Antonio Carlos Secchin (Cadeira 18. Na ABL, Cadeira 19)


 

"Murilo Melo Filho presenciou nas ruas de Natal, cidade onde nascera, um momento decisivo para a História do Brasil: a reunião do presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt com Getúlio Vargas, durante a qual ficou acertada a cessão de bases militares americanas no Rio Grande do Norte. A Conferência do Potengi, por ter sido realizada às margens do rio Potengi, foi um lance estratégico fundamental para os aliados, cujos aviões, ainda sem capacidade transatlântica, encontravam um ponto de escala no nordeste do Brasil para alcançar o litoral africano já ocupado por ingleses e americanos e daí para Europa. Esta foi a primeira vez que Murilo viu a história passando diante dos seus olhos, e ele correu ao Diário de Natal para colaborar com informações para a reportagem que seria escrita pelos veteranos da redação.Tomou gosto pela profissão, e do Diário veio para o Rio e aqui prosseguiu na carreira no Correio da Noite. Carreira que deste jornal, hoje extinto, o levou aos quatro cantos do mundo, da visita do presidente João Goulart ao presidente Kennedy em Washington à guerra no Camboja e a entrevistas com meia centena de líderes mundiais. Lista extensa, que ocupou quase uma página do discurso com que o acadêmico Arnaldo Niskier o saudou, ao recebê-lo na Academia Brasileira de Letras. Lamentamos hoje a perda de um jornalista com quem convivi, eu então estagiário, na Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, mais tarde na Manchete, de Adolfo Bloch. Murilo foi um autodidata, Na segunda metade da década dos anos 50 do século passado, quando as redações dos jornais do Rio adotavam o estilo do jornalismo direto, sem o "nariz de cera" ele já escrevia na Manchete duas páginas sobre política isenta da gordura do adjetivo, da subliteratura, do fraseado comuns em jornalistas que se julgavam escritores. Foi um excelente colega, católico caridoso e profissional que jamais aderiu ao poder, político ou econômico. Me precedeu na Academia Brasileira, e tive a honra de receber seu voto, quando fui eleito; dirigiu a biblioteca Rodolfo Garcia e contribuía, nas reuniões, com textos sobre literatura no seu estilo, direto, mas informativo. Com sua falta, perde o Brasil perde o jornalismo, perde a Academia Brasileira de Letras, a Academia Carioca de Letras, o Pen Clube e a Associação Brasileira de Imprensa, onde esteve sempre na barricada da luta contra a censura e pelo estado de direito. Fica a nossa saudade".

- Cícero Sandroni (Cadeira 13. Na ABL, Cadeira 6)
 

“Josué Montello me apresentou a Murilo Melo Filho na redação da revista Manchete. Em poucos minutos nos tornamos amigos íntimos. Era o jeito de Murilo: fazer amizades com sua voz mansa, seu sorriso convidativo ao bom relacionamento. Ele tinha aquilo que o espanhol denomina don de gentes. O dom de conquistar a simpatia do Outro, trazê-lo para a sua coleção de amigos e admiradores. Um delicado humor, uma férrea dedicação ao seu trabalho jornalístico e de escritor ensaísta que publicou, entre muitos outros livros, O desafio brasileiro e Augusto dos Anjos, a saga de um poeta.

Saudades de nossos jantares, de nossas conversas sobre tudo e sobre todos. Nos veremos em breve, xará”.

- Cláudio Murilo Leal (presidente da ACL / Cadeira 22)
 

“Conheci Murilo Melo Filho em duas circunstâncias. Primeiro, por escrito. Na página que assinava na Manchete, mobilizadora de milhares de leitores. Era a tribuna em que se consagrou como influente formador de opinião. Depois nas minhas andanças acadêmicas. Foi amizade plena à primeira vista. Murilo se tornou um entusiasta da minha entrada na Academia Brasileira de Letras. E nos tornamos, de imediato, amigos de infância. Aprendi a admirar a sua dedicação totalizante à Casa. O seu convívio, na ABL e logo na nossa Academia Carioca de Letras. Sempre marcado pela afabilidade, pela delicadeza, pelo afeto. Imune a qualquer gesto agressivo. Cultor do diálogo. Aberto à divergência. Sempre pontuando a seriedade dos seus pronunciamentos com uma ponta de humor. Não sem razão, era para todos nós, seus amigos da ABL, o Murilinho.

Ao lado da amizade, ampliava-se a admiração pelo homem da imprensa, atento à notícia e para além dela, sempre preocupado com os desafios, a cada passo lançados ao Brasil. Com a coragem do correspondente de guerra, com o olhar arguto do protagonista da História, no registro presencial dos muitos episódios da criação de Brasília. Murilo Melo Filho foi, antes de tudo, um senhor jornalista.

Nonagenário, partiu. Cumpriu-se o seu percurso por esse rio fatal chamado vida. Com excelência e galhardia. Resta-nos abrigar a sua grata lembrança na nossa memória e na nossa saudade”.

- Domício Proença Filho (Cadeira 36. Na ABL, Cadeira 28)
 
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